quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Retratos do meu ente solitário,
São os sonetos que aqui escrevo,
Despidos de pudor, prenhes d’ enlevo,
Chorando as contas deste meu rosário...

Expor o que não tem qualquer relevo,
E profanar assim meu relicário,
Parece ser meu dom, o meu fadário,
Meu lado frágil, escuro, mui malevo.

Os meus sonetos são retratos puros,
Dos meus caminhos tristes, inseguros,
Desta agonia que me tira o tino.

Mas se escrever é dom também divino,

Edir Pina de Barros


melhor chorar, plangente feito o sino
Do que sofrer sozinha, intra-muros.

Plangendo em noite escura e sem saída
Usando para tanto um verso, um pinho,
Enquanto o mundo eu verso, tão mesquinho,
Encontro na ilusão uma guarida.
Assim consigo alguma luz na vida
É como renovasse o velho ninho,
E esqueço que prossigo em vão, sozinho,
E uma esperança atroz a alma lapida.
O enfado toma o quanto ainda vivo,
Nalgum soneto encontro o lenitivo
E busco disfarçar meu desalento,
Sabendo, bem no fundo, deste fato,
Apenas o vazio ora constato,
Mas pelo menos sonho, escrevo... Eu tento...

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